Saturday, June 26, 2010

Sentimentos Nômades 2



Estamos de passagem neste mundo, eu e eu mesmo estamos acampando em vários pontos diferentes, mas permanecemos na mesma terra, no mesmo grande lar de todos os outros. Tudo que vivemos é aproveitado o quanto podemos. Dizemos o que realmente transborda de nossas almas, sussurramos aquilo que internamente é gritante, e externamente quase sem sonoridade.

E somos grandes demais para si mesmos. E eu creio que me faltaram pessoas nos tempos juvenis, porque só agora sinto a felicidade de uma possível boa humanidade.

Todos os dias nos encontramos, todas as noites nos perdemos. Nós temos que nos separar alguma hora, nós teremos que nos separar um dia por todas as horas. E eu me perco nessas perdas cotidianas, eu me perco nessas perdas de mim no outro, de partes não-minhas que eu encontro nos outros.

A impotência por não poder pegar os meus pedaços perdidos pelos caminhos, a consciência de que somos tão iguais quanto diferentes, a dor de perder aquilo que nem poderia me pertencer, a despedida dura e cruel do que eu gosto causada pela minha racionalidade(que mais me parece emocional)... Somos frágeis.

Somos um viajante de nossos próprios sentimentos, nós cultivamos eles com um amor intenso em cada lugar que passamos, choramos longe das luzes quando os abandonamos, e ficamos aparentemente firmes e fortes para aqueles que nos flagram nessa terrível dor de ter que tornar nossos sentimentos nômades.

Quem disse que isso evitaria sofrimento?

E eu e eu somos um misto de gelo e fogo: esfriando aquilo que mais amamos, e ardendo por dentro porque fatalmente tentando matar o outro em si, acabamos queimando torturosamente o nosso coração.

Nossos sentimentos nômades aos poucos acabam nos matando.