Nós somos fortes para suportar as torturas físicas e mentais. Podemos pronunciar e escutar as palavras duras da brutalidade humana. Com o olhar fixo e vazio, nos mantemos firmes diante da tendência massacrante da nossa natureza.
O exterior é tão manipulável! É o material mutável, moldável. Esse movimento que raras vezes segue a direção do que pulsa dentro. Nessa gruta tudo acontece e é refletido nas batidas do coração. Quando nos damos conta é porque ele dança de acordo com um som incontrolável.
E bate! E parece que somos um carro convencional e modesto com um motor envenenado.
Isso começa após alguns instantes de contenção exterior. Seguramos aquilo com o semblante calmo e irônico, parece que não exige o menor esforço. Que belo sorriso estampado no nosso rosto! Estamos pensando um milhão de coisas que surgem de forma instantânea, depois de cada palavra descabida pronunciada.
E acabou. Desmancha-se o cenário. Cada um volta para sua respectiva normalidade.
Então não foi algo tão impessoal e profissional como fizemos parecer.
E bate! E parece que alguma coisa aqui dentro encontrou uma forma de ter a atenção que tanto precisava!
Você não é o tipo de pessoa que lembra das coisas depois dos 14. O que tem nesse intervalo de tempo até os 22?
Algumas aventuras e desventuras. Pessoas que vem e vão, com suas alegrias e inconveniências. Alguns momentos breves e louváveis, outros longos e torturantes. Essas coisas se misturam num misto de gelo e fogo.
E bate! Esse bendito sentimentalismo que se manifesta no coração!
Nós estamos tão mortos quanto estamos vivos. E não cremos que seja uma dádiva sucumbir e reviver todos os dias. Que ser humano é esse que se perde e se ganha no mesmo instante?
E ficamos pensando que esse é um mal intrínseco da nossa alma. Ser amaldiçoado que não se prende a nada! Amaldiçoado porque vive num mundo onde todos estão se prendendo a todo instante em alguma coisa, em alguem, ou em um alguem-coisa. Amaldiçoado porque tem pensamentos incompatíveis para serem compartilhados, sendo condenado a sua eterna solidão de ser.
E mesmo que uma alma lhe dissesse tudo o que precisaria ouvir, são apenas palavras, livres de qualquer dor do nosso próprio espírito.
É sempre assim.
Nos flui pelos poros a sensibilidade incontrolável e insustentável de sentir.